O lince Junípero, nascido no centro de reprodução de Silves, inaugurou a temporada de 2014 da libertação de linces-ibéricos (Lynx pardinus) na natureza, em Espanha. A libertação, prevista no programa de conservação da espécie ex-situ, ocorreu nesta quarta-feira, dia em que a Junta de Andaluzia revelou os resultados do censo mais recente, referente a 2013, que apontam para um aumento, ainda que ligeiro, da população.
Nascido em 2012, filho da fêmea Fruta e do macho Fresco, Junípero é uma das crias bem-sucedidas no centro de Silves, que se revelou em 2013 a melhor maternidade para o lince-ibérico, com uma taxa de sobrevivência superior à dos centros de reprodução espanhóis. À semelhança dos outros linces-ibéricos já libertados, também Junípero tem um colar de radiotransmissão para que seja possível saber a sua localização.
O animal foi libertado na zona de Guadalmellato, na Andaluzia, Sul de Espanha, ao abrigo do projecto luso-espanhol LIFE Iberlince, que arrancou em 2011. Este projecto promove a reprodução em cativeiro como solução para reforçar as duas únicas populações existentes em estado selvagem, em Doñana e na Serra de Andújar, na região da Andaluzia – que é, por isso, a única onde até agora foram introduzidos indivíduos nascidos nos centros de reprodução. No entanto, o objectivo é também recuperar as populações que existiam em Portugal, na Extremadura espanhola e em Castela-La Mancha.
As próximas zonas de reintrodução da espécie serão definidas em Fevereiro, numa reunião que vai juntar todos os parceiros envolvidos no projecto, portugueses e espanhóis. Pela primeira vez, este ano poderá haver libertações em Portugal, como foi anunciado em Outubro pelo secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto. Em estudo está a zona do vale do Guadiana, em Mértola (Alentejo). Do lado espanhol, estão a ser analisadas as as zonas do vale de Matachel (Badajoz), Guadalcanal-Valdecigüeñas (Sevilha-Badajoz), Montes de Toledo e Cabañeros (Toledo) e o Campo de Calatrava (Cidade Real).
“O lince-ibérico não conhece fronteiras, mas antes de fazermos a introdução dos animais nascidos em cativeiro é preciso fazer um estudo das condições, e tanto em Portugal como em Espanha esse estudo ainda está a ser concluído”, afirma Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza, coordenador do projecto LIFE Habitat Lince-Abutre, cujo objectivo é a promoção do habitat destas duas espécies no sudeste de Portugal.
Uma das condições obrigatórias para a libertação é garantir, por exemplo, a população de coelho-bravo, que está na base da dieta do lince-ibérico. “A reintrodução é apenas uma ferramenta para a conservação do lince, não é um objectivo em si. Por isso, e porque este é um esforço ibérico, os linces deverão ir para os locais com melhores condições, em Portugal ou em Espanha, na Andaluzia ou fora dela”, explica.
Com a libertação de Junípero, aumenta para 37 o número de linces de cativeiro introduzidos na natureza. Desses 37, 12 nasceram no centro do Algarve, tendo seis sido soltos na zona de Guadalmellato (Córdoba) e os restantes seis na zona de Guarrizas (Jaén), também na Andaluzia, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).
Nesta quarta-feira, a Junta de Andaluzia divulgou os resultados do censo de 2013 efectuado à população desta região, que apontam para um ligeiro aumento no número de indivíduos em relação a 2012: existem actualmente 319 linces-ibéricos, mais oito do que em 2012. A maior parte (169) habita nos parques naturais de Cardeña-Montoro (Córdoba) e a Serra de Andújar (Jaén), e 85 vivem na zona de Doñana-Aljarafe, segundo os dados divulgados pela Junta.
Estes números estão, porém, já desactualizados. Nas primeiras duas semanas de Janeiro foram encontrados os cadáveres de dois linces-ibéricos, segundo as notas divulgadas no site do projecto LIFE Iberlince: um macho de dois anos, encontrado a 6 de Janeiro após ter sido atropelado na zona de Azuel (Córdoba), e outro com quase dois anos, encontrado morto três dias depois na linha ferroviária Linare – Alcázar de San Juan, em Guarrizas (Jaén).
Além de um aumento populacional, a Junta de Andaluzia registou mais fêmeas territoriais, que representam o potencial reprodutor da espécie em liberdade. O número de fêmeas fixadas num território e em idade de reprodução aumentou para 92, mais sete do que em 2012. Apesar disso, o número de crias é menor: 54 indivíduos, menos 24 do que no ano anterior. Segundo o Conselho de Meio Ambiente e Ordenamento do Território da Andaluzia, a redução estará relacionada com a diminuição de alimento disponível em Andújar-Cardeña, devido à nova estirpe da doença hemorrágica do coelho-bravo.
Fonte: Público