Um grupo ibérico está a desenvolver um projeto que visa minimizar os conflitos entre o pastoreio de bovinos e o lobo. Em setembro será apresentado um documento com as diretrizes para melhor proteger os animais domésticos.
O projeto “A criação de gado bovino em regime extensivo no Noroeste: métodos de proteção contra ataques de lobo” está a ser desenvolvido pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO) e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), contando com a participação do Life MedWolf.
Francisco Álvares, do CIBIO, afirmou hoje à Lusa que o objetivo é “redefinir a coexistência dos animais domésticos com o lobo”, envolvendo criadores de gado, associações de criadores e de baldios e entidades ligadas à conservação do lobo.
Segundo dados do ICNF e de uma tese de doutoramento desenvolvida no CIBIO, em 2013 foram declarados ao Estado 2.746 ataques de lobos a animais domésticos para efeitos de atribuição de indemnizações, que totalizaram 790 mil euros. Dos 2.746 ataques, 902 foram feitos a bovinos, dos quais resultou o pagamento de 359 mil euros de indemnizações. O Parque Nacional Peneda-Gerês foi o local onde o conflito registou maior expressão.
Este trabalho está ligado a um projeto mais amplo financiado pela União Europeia, que aborda a predação não só do lobo como de todos os grandes carnívoros, como o lince e o urso, o que “demonstra que esta é uma problemática que não é local e tem vindo a ser alvo de uma cada vez maior preocupação por parte da UE”.
Francisco Álvares destacou que, “sendo pastoreado em regime de liberdade, o gado bovino encontra-se muito mais sujeito à predação do lobo e torna-se numa espécie de pecuária que é muito mais difícil de proteger”.
Numa primeira reunião de trabalho, que juntou em meados do mês proprietários de animais, associações de baldios e entidades ligadas à conservação do lobo, “foram identificados problemas relacionados com o conflito entre pecuária e lobo, mas também algumas soluções”.
As diretrizes a definir “poderão ser incorporadas numa atualização da lei do lobo e no sistema de indemnizações, para que os animais que forem devidamente protegidos sejam indemnizados”, acrescentou Francisco Álvares.
Para Francisco Álvares, todos podem e devem participar, enriquecendo este projeto com sugestões. Desde as escolas às autoridades locais, passando por todos os interessados num convívio mais pacífico com a fauna silvestre com que partilhamos território.
O projeto teve início em outubro de 2013 e tem a duração de um ano.
Fonte: RTP