Ágil e discreta, a marta (Martes martes) é uma quase desconhecida em Portugal. A sua presença foi detectada pela primeira vez na década de 80, confirmando que, afinal, este pequeno carnívoro também habita nas nossas florestas. No entanto, a reduzida densidade populacional e dificuldade de captura têm complicado uma investigação que pode ser necessária para a sobrevivência da espécie. É que, a julgar por alguns países como o caso da Inglaterra, a desflorestação e a pressão humana estão a colocar a marta em risco de extinção. Pelo menos no estado selvagem.
O primeiro animal observado foi encontrado morto numa zona próxima da serra da Estrela. A identificação não é fácil, dadas as semelhanças da marta com a sua congénere, a fuinha (Martes foina). “Só uma pessoa muito experiente consegue identificar as características que as distinguem. A fuinha é um dos carnívoros mais abundantes em Portugal e durante muitas décadas pensou-se que nem sequer existisse marta no País”, diz Margarida Santos-Reis, investigadora do Centro de Biologia Animal da Faculdade de Ciências de Lisboa. Depois da primeira observação em Portugal, começou a haver um cuidado redobrado de procura destes carnívoros.
Continuam a ser observados alguns animais mortos (especialmente devido a atropelamentos). E, de vez em quando, encontram-se peles que se suspeitam pertencer à marta. Segundo um estudo português feito em 2006 e publicado no livro Martes in Carnivore Communities, tinham sido encontrados seis registos de observação directa da espécie desde 1988. Todos associados a zonas de precipitação elevada, florestas de carvalhos (escolhidas pela maior probabilidade de existência de abrigos) e ausência de campos agrícolas e florestas de pinheiros. “A população total estimada varia entre os 25 e os 294 indivíduos”, refere o estudo.
A perda e a perturbação do habitat (devido a incêndios, construções de estradas e actividades turísticas) nas últimas décadas é uma das maiores ameaças. A professora Margarida Santos-Reis acrescenta o facto de “ser uma espécie que em acções de controlo de predadores é facilmente capturável e, por isso, quando são usados meios não selectivos a espécie acaba por sofrer”. Por outro lado, em alguns países, a pelagem da marta é ainda usada e a espécie continua a ser explorada comercialmente. “A legislação europeia impede que isso aconteça, mas não existe nenhuma lei específica para a espécie no nosso país.”
O Norte e centro de Portugal são as zonas de maior probabilidade de ocorrência da espécie, sendo que a população mais próxima é a que existe em Espanha e está separada por cerca de 60 quilómetros, o que significa que as populações portuguesas podem estar também isoladas em termos de reprodução.
Contudo, na zona mediterrânica e também no canto ibérico, por representar a franja da sua distribuição, tem densidades mais reduzidas. “A conservação da espécie é uma preocupação nesses países.” Mas o que existe são dados pontuais, resultantes de alguns registos que indicam que, mesmo no passado, a espécie já existiria nessa zona.
Por outro lado, os censos e a monitorização destas espécies são muito complicados porque, na maioria das vezes, os animais vivem em reduzidas densidades. Seria importante saber qual o seu estatuto actual, se ela se está a expandir ou não. “Até porque, com o abandono da agricultura e da pastorícia, muitas áreas florestais estão a recuperar. É, claro, uma tendência contrariada pelos fogos, mas existe.
Fonte: Diário de Notícias