Um milhão de euros para ter mais coelhos à mesa dos linces

Lince-ibérico - CNRLI

Os concelhos de Castelo de Vide, do Sabugal e de Penamacor, com a supervisão da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA), vão instalar uma rede de parques de criação de coelhos-bravos com o objectivo de, posteriormente, os libertar nos locais onde vai ser introduzido o maior felino da Península Ibérica. É assegurada, desta forma, a alimentação do lince-ibérico nas serras da Malcata, de São Mamede e na área de Moura/Barrancos.

O projecto de recuperação da população de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus), que custará um milhão de euros, é candidato ao Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR).

Entre as medidas delineadas no projecto estão a construção e requalificação de cercados para a reprodução do coelho-bravo, a criação de morouços (tocas artificiais), a realização de sementeiras e acções de controlo das espécies predadoras do animal. Ao limitar os movimentos dos animais, torna-se mais fácil o controlo das doenças que têm dizimado o coelho-bravo. Esta espécie sofreu uma forte diminuição na segunda metade do século XX, um pouco por toda a Península Ibérica, devido principalmente à acção de duas doenças víricas: mixomatose e doença hemorrágica viral (DHV). Em 2010 foi identificada uma nova variante do vírus responsável pela DHV.

A experiência que a EDIA foi assimilando na recuperação do coelho-bravo desde que instalou ,em 2003, na Herdade da Contenda em Moura, o primeiro cercado para receber os animais que retirou das ilhas formadas pelo enchimento da albufeira do Alqueva, permite-lhe orientar e supervisionar a instalação deste tipo de equipamentos nos três concelhos. A empresa considerou que a reintrodução do lince-ibérico em território português era um tema em que se poderia envolver, tendo sobre ele realizado um estudo preparatório. A empresa mantém um parque de reprodução de coelhos na Herdade da Coitadinha, em Barrancos, para repovoar aquele território.

“O lince-ibérico é o selo de garantia de qualidade do ecossistema de que faz parte, a prova de que este está em equilíbrio”, adiantou ao PÚBLICO Pedro Salema, presidente da EDIA. E explica porquê: “A ausência deste superpredador desequilibra os ecossistemas, que se tornam uma porta aberta para a proliferação de raposas, saca-rabos, ginetos, furões e gatos-bravos que delapidam as populações de coelho-bravo.”

O presidente da EDIA assinala que só haverá mais linces em liberdade fora do Vale do Guadiana “quando houver garantia de um número suficiente de coelhos.” A primeira reunião com vista ao arranque do projecto de instalação de novos cercados para a reprodução de coelhos realizou-se em Penamacor. “Seguem-se as visitas ao campo para ensinar a instalar o modelo”, assinala Pedro Salema.

Os cercados de coelhos possibilitam o aumento das populações da espécie que é muito prolífica num curto período de tempo. Esta metodologia tem-se mostrado muito útil. Os espaços para reprodução costumam ter áreas entre os dois a os quatro hectares de superfície e uma vedação com uma altura que pode atingir os três metros e mais cerca de 1 metro enterrada para impedir a entrada de predadores. Devem disponibilizar um número suficiente de refúgios feitos com toros de lenha ou tocas artificiais.

Os únicos requisitos essenciais são o refúgio e o alimento. Em cercados de quatro hectares podem ser instalados até 19 comedouros para os coelhos, que podem chegar a consumir entre um a dois quilos de ração por comedouro/dia.

Os primeiros cercados de coelhos foram construídos na Austrália em meados do século XX para estudar a ecologia da espécie com o objectivo de poder controlar as suas populações de forma mais eficaz. Hoje subsiste o problema da escassez e a necessidade de voltar a proliferar extensos territórios do da Beira Baixa, Alto Alentejo e Baixo Alentejo com a espécie que é o alimento base do lince-ibérico.

Fonte: Público

 

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